sábado, 10 de abril de 2010

[18] A velhinha de Hanói

Em Vang Vieng peguei uma van que me deixou no aeroporto na cidade de Viantiane, capital do Laos. O vôo até a capital do Vietnã, Hanói, foi tranquilo. Passei na imigraçao, troquei dinheiro, obtive um mapa e informação de transporte para o local onde ia ficar.

No caminho do aeroporto pra região do Old Quarter já deu pra ter um idéia de como eh Hanoi, uma cidade muito louca, que se desliga tarde e desperta cedo. Parece que há 40 motos para cada carro. Será que isso é oriundo de algum custume passado de usar a bicicleta como transporte? Percebo que no sudeste asiático existem sim carros, mas em muito maior numero existem motos e tuk tuks.

Não sei por quê, mas em um primeiro momento gostei mais de Hanoi do que da também ajitada Bangkok, talvez pelo fato de a temperatura estar mais amena e ser possível caminhar pela cidade e desvenda-la sem sofrer. Mas ainda assim, acho que gostei mais da Tailandia do que vou gostar do Vietna.

A comida de rua no Vietna, como nos demais paises do sudeste asiatico, eh deliciosa. Eles comem muita carne de porco, aproveitei pra matar a saudade! A mistura de molhos doces com azedos também eh constante: “sweet and sour”, sem muita pimenta “spicy”. Já percebe-se a influência chinesa na propria comida. (Enquanto a India influenciou muito a Tailandia, o Laos e o Cambodja, a China ocupou o Vietna por 1000 anos e deixou marcas ateh os dias de hoje –isso vale para a comida, religiao, costumes…).

Em nenhum lugar ate agora me senti tão na Ásia como no Vietnã. Mulheres com grandes chapéus em formato de cone na cabeça carregando coisas por meio de um pendulo no ombro nas ruas eh uma cena emblemática, vista em muitas oportunidades. Mesmo na regiao do Old Quarter, que eh uma regiao ao redor de um belo lago onde concentra-se boa parte dos hoteis e agencias de turismo de Hanoi, tudo remete ao passado. (Essa eh a regiao ideal para se ficar em Hanoi).

Falar do Vietnã sem falar de Ho Chi Min eh um insulto para qualquer Vietnamita. Muito mais que um politico comunista, ele era um patriota, um lider que levou o Vietna para a conquista da independencia. Ele eh um verdadeiro heroi no Vietna, e nao ha cidade sem um museu sobre ele ou sem uma estatua dele em algum canto. Logo, uma das maiores atracoes de Hanoi eh o complexo de Ho Chi Min, um conjunto formado por mausoléu, museu, palácio/residéncia e outros predios com arquitetura interessante. Nao muito distante esta o Templo da Literatura que tambem eh de visita obrigatoria.

Aventura mesmo foi chegar e sair do complexo de Ho Chi Min. Para ir peguei uma moto-táxi. Acertamos o preço e o piloto me deu um capacete. Sinceramente, quem tem amor a vida tem que pensar duas vezes antes de sentar em uma garupa de uma moto em Hanói, mas tirando as súbidas desviadas, as entradas na contra-mão e algumas freadas bruscas, foi muito divertido. E para voltar… mirei o mapa e decidi voltar caminhando. E pior, por ruas menos movimentadas. Santa ingenuidade, depois de 40 minutos, perdido, finalmente avistei um local familiar: a origem do inicio da caminhada, ou seja, o Templo da Literatura de novo. Desta vez decidi ir pela via principal, e nao eh que depois de uma bifurcacao fui perguntar e misteriosamente ja estava voltando para o Templo da Literatura de novo? Essas ruelas de Hanoi… Porem dessa vez consegui seguir para a regiao onde estava hospedado.

Pais nossos que estais na terra. Aqueles que ficam horrorizados com uma crianca no banco da frente de um carro sem cadeirinha, denunciaria a autoridades internacionais os vietnamitas que colocam duas criancas de menos de 5 anos em uma moto (uma na frente e outra atras), sem capacete, e dirige por Hanoi. Posso estar exagerando ao citar duas criancas, o que vi menos frequentemente, mas com uma se ve a todo momento.

Dezenas de motos, alguns carros, bicicletas, pessoas atravessando, quase nenhum semáforo, ou seja, som de businas sem parar...Parei para observar um pouco e tentar entender aquele caos urbano dos cruzamento de Hanoi quando de repente vejo um velhinha do alto de seus 80 anos no meio da rua e daquela confusão. Toda maqueada, de preto, elegantente vestida com um traje de passeio . Ela, com a experiencia de quem parecia morar em Hanoi ha anos, estava literalmente presa no centro da larga rua. Atras dela passavam carros, na sua frente dezenas de motos, a direita e a esquerda os veiculos desviavam dela. Subitamente a velhinha levantou suas maos e como quem rege uma orquestra comecou a reger o trafego de Hanoi. Olhava para os lados, levantava e abaixava ora a mao direita, ora a esquerda. Mas como musicos rebeldes os motoristas com seus intrumentos mecanicos pareciam ignorar a velhinha e nao a obedeciam. Então ela decidiu pelo inevitavel: dar um passo. E outro, e outro, e as motos e carros e bicicletas passavam como riscos por ela. Seria demais imaginar que tendo sobrevivido 80 anos de todos as ameacas fisicas e psicologicas possiveis que um ser humano pode passar na vida, a velhinha fosse terminar a sua de forma tao banal? Nao, soh mesmo os olhos de alguem estranho ao local poderiam desconfiar que a nobre velhinha bem vestida e maqueada atravessaria aquela rua caotica como quem faz trico. Para mim a chegada ao outro lado da rua deveria ser comemorado com urras das torcidas dos dois times em um estadio de futebol lotado.

P.S. 1 Em Hanoi contratei o passeio de dois dias pela Ha Long Bay e comprei a passagem de avião para Ho Chi Min City, sul do Vietnã.

P.S. 2 A gente sempre quer mostrar que sabe inglês, mas para fugir dos assédios de quem lida com turistas o melhor é tentar mostrar que não se está entendendo nada. Assim por várias vezes começava a falar português com os vietnamitas e eles ficavam malucos, até que desistiam da abordagem.

P.S. 3 Gostei do famoso café Vietnamita, mas o café especial brasileiro nao deixa nada a desejar

P. S. 4 Muitas crianças abordam os turistas aqui com Hello Hello e muito frequentemente pedem para tirar fotos deles.

Nenhum comentário: